quinta-feira, 6 de junho de 2013

Quando as cartas pararam de chegar

    No inicio da minha carreira missionária o sistema de comunicação era bem diferente do que temos hoje, o mundo parecia maior e as distâncias mais longas. Lembro-me do dia em que estava na Missão Antioquia e senti o chamado de Deus para a Índia no Brasil, naquela mesma noite, depois da pregação onde tive meu coração aquecido com a chamada missionária, subi à casa de oração que existia lá no Vale da Benção, onde estava a Missão Antioquia, para buscar saber num mapa onde estava este país estranho, exatamente do outro lado do mundo. A viagem de avião para a cidade onde fui trabalhar na Índia, com as escalas, eram feitas em três dias.
    A minha comunicação era feita basicamente através das cartas. Uma carta levava até um mês para chegar ao Brasil e depois mais um para receber a resposta, mas era uma espera gostosa. Quando o dinheiro permitia, usávamos o telefone, que não tinha em todo lugar, eram umas cabinas apertadas com uma espécie de contador que enquanto falávamos mostrava o valor a pagar, era tão caro que a ligação era um martírio, falávamos o necessário para poder desligar ou o dinheiro ia todo para o telefone. Então a alegria eram as cartas mesmo. Duas a três vezes na semana íamos ao correio central para buscar as cartas, era uma alegria tão grande que líamos ali mesmo, sentados no meio fio ou escadas. Sempre havia umas três ou quatro cartas, longas, com fotos, contando detalhes da vida, etc. Mesmo as cartas de quem não conhecíamos, geralmente enviadas em época de campanhas missionárias nas igrejas, mesmos estas eram gostosas de ler e responder.
    Depois a tecnologia chegou onde estávamos, o e-mail. Mas não era assim como temos hoje, era do tipo que se enviássemos entre 10h e 17h, o destinatário recebia o mesmo dia, se não, só no dia seguinte. E no fim de semana não funcionava. No inicio poucas pessoas tinha e-mail, então não prestava muito, mas não demorou muito e o Hotmail e Yahoo dominaram a comunicação e passamos a fazer uso dessa ferramenta. Mas algo começou a acontecer, a comunicação ficou cada vez mais superficial.
    O mundo ficou menor, as distâncias encurtaram, a comunicação ficou praticamente de graça, mas em vez de aumentar nossos laços com familiares, amigos, igreja, diminuíram. E para piorar, inventaram um tal de "cc" ou "bcc" nos emails, que permite escrever a mesma coisa para milhares de pessoas ao mesmo tempo. A personalização se foi por completo. Confesso que não gosto dos meses de campanha missionária, pois recebemos inúmeras mensagens de igrejas e pessoas que não têm a mínima sensibilidade, pedem informações como se tivessem fazendo um orçamento em supermercado. Observamos que a mesma correspondência foi enviada para dezenas de missionários e sempre com a mesma promessa: a "possibilidade" da oração e de uma ofertinha, que raramente, muito raramente mesmo acontece. Sem contar quando não trocam nossos nomes e o campo onde trabalhamos e por ai vai.
    Enfrento dois problemas, sou missionário velho no campo, isto significa que já estamos quase esquecidos, não pela igreja que nos enviou ou por nossa junta, mas para uma boa maioria daqueles que no passado nos escreviam. Missionário velho sai de moda, pois não conta novidade todo dia. E quem está interessado em saber de quem faz a mesma coisa há vinte anos? As redes de comunicação social substituíram a boa conversa pelos recados nos murais, e por ai vai. Uma lástima! Hoje a maioria de emails que recebo são spans, e os poucos que recebemos de amigos são muitas vezes superficiais, e finalmente chegou o dia em que as cartas deixaram de chegar, a última que recebemos faz seis meses.
    Este texto não é uma reclamação contra nossos amigos, é apenas para nos fazer refletir sobre o perigo da superficialidade nas relações e comunicação, principalmente na causa missionária...
Vou terminar por aqui, fazer um "copy and paste" e enviar pelo "bcc" a todos da minha lista, para quem sabe um ou dois lerem... se ler, ore por esse missionário velho, sozinho e cansado. Se me escrever com carinho, prometo fazer como fazia Francisco Xavier, missionário jesuíta, que levou o evangelho a Ásia, e que lia com lágrimas e oração as cartas que lhe enviava seu amigo Inácio de Loyola.

Rev. Luis A. R. Branco

2 comentários:

  1. A Paz do Senhor. Vamos Evangelizar com a ajuda do Espírito Santo. Passando e informando que já estou te seguindo. do amigo em Cristo Pastor Ismael - http://aquieuaprendi.blogspot.com

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  2. Obrigada Pr.Ismael,Jesus o abençoe ricamente!abraços!

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