quarta-feira, 13 de julho de 2016

A FRONTEIRA ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO

    Bianca Toledo e Felipe Heiderich e Vivienne e Michel, o que esses dois casais têm em comum? 
Já lhes explico: Foi em uma noite de outono, na década de 1980, que certa Vivienne, uma mulher francesa comum, declarou em um talk-show de TV, portanto diante de milhares de telespectadores que, uma vez que seu marido Michel sofria de ejaculação precoce, ela jamais experimentara um orgasmo em toda a sua vida de casada, levando ao chão todas as fronteiras entre o público e esferas privadas, dando inicio a essa era que Ehrenberg chama de sociedade confessional, fazendo alusão ao confessionário católico com microfones instalados onde tudo passa a ser para uso e consumo de uma audiência pública. Uma sociedade ávida por saber e alimentar-se das mazelas alheias.
Nessa semana Bianca surpreendeu a todos revelando seu drama familiar, colocando em sua página social a prisão de seu marido Felipe Heiderich por pedofilia e a confissão feita a ela no segredo de sua casa que tinha "uma homossexualidade latente".
 Por anos ela ela tem sido um um ícone no mundo gospel. Bonita, loira, pregadora, pastora, cantora, com um testemunho de cura fenomenal, que a aproxima das pessoas comuns. As fotos e vídeo de seu casamento perfeito está amplamente difundida na rede apontado como "o casamento mais lindo do mundo".
Há muito Bianca e Felipe já ultrapassaram as fronteiras do público e privado, divulgando todos os passos de suas vidas largamente e com uma palavra espiritual anexada. Há muito perderam a capacidade de controlar a exposição e a disponibilidade de informações a seu respeito e me parece que desfrutavam disso até por escolha deles mesmos. Optaram pela vida na arena pública.
Muitas críticas estão fervilhando seja no mundo evangélico ou na sociedade secular, muitos estão questionando as ações do casal, a dele pela própria aberração da revelação em si e dela pela escolha de expor tudo nas redes sociais, sem pudor, numa clara confusão (ou simbiose?) de arenas.
O Facebook, a grande ágora do seculo 21, acolhe esses tipos de revelações escandalosas amorosamente, alimenta-se das tais. A página da Pastora Bianca tem mais de 3 milhões de seguidores. Um de seus desabafos tem mais de 30 mil compartilhamentos.
A pedofilia é crime e como tal deve ser tratado e combatido, isso nem se discute, mas a revelação de homossexualidade era necessária? Será que esse tipo de revelação não deveria ser reservado á própria pessoa o direito de fazê-lo? 
Quando decidimos transitar pela arena pública, que nada mais é do que um espaço de acesso livre a todos que quiserem entrar, precisamos ter em mente que assumimos os riscos de sermos vigiados e ouvidos, assumimos as consequências, renunciamos o direito de objetar ou reivindicar compensações.O direito de decidir quem vai adentrar não existe.
Bianca diz que recebeu de Deus quando da sua cura milagrosa uma missão de pregar a palavra e passou a fazê-lo, mas acabou sendo absorvida por essa sociedade midiática sem divisões fronteiriças, acabou por projetar no imaginário popular uma imagem de vida acima dos simples mortais. E agora não há como voltar, mesmo com o pedido da pastora na mesma página e compartilhado igualmente pelos fãs, dizendo não querer mais falar sobre o assunto. Tentativa inútil de estabelecer fronteiras quando as tais não mais existem.
Bianca tomou outra decisão, que foi a de fechar a comunidade que seu marido pastoreava sob a cobertura de seu ministério americano, revelando ainda mais que o ministério do marido existia à sombra dela. 
O marido fará a sua defesa, ela diz-se enganada e quer o divórcio e tudo será muito bem acompanhado por milhões de pessoas, nesse mundo fragmentado e líquido de hoje.

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